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Tiago Patrício Rodrigues – Pura Cal,
espaços que contam histórias.

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Na Pura Cal, a cor é matéria e memória. Vive entre o gesto e o tempo. Tiago Patrício Rodrigues, sócio fundador, fala-nos deste universo onde o artesanato se cruza com a arquitetura e onde cada tom é pensado não apenas para revestir, mas para revelar. Nesta entrevista, Tiago partilha o percurso da Pura Cal e reflete sobre a cor como linguagem viva: um elemento que modela o espaço, traduz emoções e cria identidade.

Quem é o Tiago Patrício Rodrigues?

O meu nome é Tiago Patrício Rodrigues e sou arquitecto especializado em interiores. Licenciei-me aqui em Lisboa, na Faculdade de Arquitetura, e após os estudos fui para o Brasil, onde trabalhei com o arquitecto Isay Weinfeld. Quando regressei dessa experiência no Brasil, fundei o meu ateliê em nome próprio e uns anos mais tarde fundei com o meu sócio João Vilela, a Pura Cal – e desde aí que trabalhamos em exclusivo na criação de espaços e de objectos.

Como é que surgiu a Pura Cal?

Este projecto da Pura Cal começou com essa ideia de tentar distinguir a criação de espaços, de espaços que tivessem mais alma, que tivessem mais carácter. Ao mesmo tempo, como começámos logo com a ideia dos objectos, também quisemos promover e divulgar objetos que tivessem uma criação mais artesanal ou que tivessem um carácter mais único. No fundo, sempre vimos a criação da Pura Cal como uma resposta a um mercado que nós achámos que não existia – e continuo a achar – que é um mercado muito interessante, que são pessoas que procuram coisas mais únicas, mais especiais.

No vosso website podemos ler “Dizem que somos arquitectos. Dizem que somos designers de interiores. Dizem que vendemos peças de decoração. Dizem tanto sobre nós e orgulha-nos ouvir a forma como o dizem. Somos tudo isto. Mas não é isto que nos define.” – O que é que vos define?

O que nos define é sobretudo o princípio de querer criar espaços, porque é nisso que trabalhamos, é o nosso métier – espaços com alma, com carácter, com emoção. Nós tentamos trabalhar muito com a emoção. Com as emoções dos nossos clientes, e também com a emoção que os próprios ambientes e os objectos transmitem.

Podemos dizer que a Pura Cal nasce de uma fusão entre arquitectura, design e emoção. Quando olham para um espaço em branco, qual é a primeira coisa que procuram sentir antes de começar a criar?

Nós, primeiramente, temos que ver sempre a identidade do espaço. Portanto, ver a sua história, os períodos que ele passou, perceber a sua materialidade, perceber as características que o definem, não só os materiais, mas como é a espacialidade, a luz, tudo isso. Depois, em conjunto com o programa que vamos implementar, criar uma fusão entre tudo isso e criar um conceito, criar um imaginário à volta do passado, do presente e do futuro.

A vossa estética é profundamente enraizada na história dos lugares — nas cores, nos cheiros, nessa herança. Como é que essa ligação emocional se transforma numa linguagem visual? Como é esse processo criativo?

O processo criativo varia muito conforme o nosso cliente, conforme as suas pretensões. Mas, em geral, o processo criativo passa sempre por fazer conexões e fazer ligações entre várias coisas. E, muitas vezes, isso é uma coisa que não se vê, mas depois sente-se. Portanto, a ligação entre os materiais, entre as cores, entre os objectos, e buscar vários tempos, várias memórias. É uma coisa que nós tentamos fazer – cruzar e buscar referências de várias épocas.

Como é que o vosso espaço – o vosso ateliê – reflecte a vossa filosofia de criação?

O nosso espaço é como a nossa cabeça, é uma grande confusão, está cheio de coisas, cheio de referências, cheio de materiais. E o que ele reflecte é um bocado a nossa maneira de estar, que é uma maneira de estar que cruza muitos objectos diferenciados, que procura ter elementos diferenciadores. Nós trabalhamos muito, por exemplo, com artesãos e ter essas referências mais manuais, essas texturas, essa questão do saber fazer… acho que o nosso espaço reflecte muito essa ideia e, ao mesmo tempo, é um espaço cheio de vida, cheio de cor e que, normalmente, as pessoas, os nossos clientes e quem nos visita, fica muito agradado e surpreendido com essa mescla que nós fazemos, essa mistura de coisas, que agrada.

Assumem-se também como contadores de histórias, e a Pura Cal já contou muitas histórias. Há algum espaço que vos tenha marcado de forma especial?

Acho que os projectos onde temos uma maior ligação com os clientes acabam por ser mais interessantes, porque conseguimos ir mais a fundo dentro das suas ideias. Ultimamente fizemos uma casa de praia, que era uma casa de família, que foi um projecto muito especial, porque era uma casa dos anos 50, que nós realizámos toda, desde a arquitectura até ao design de interiores, e que foi um projecto muito aprofundado, nas raízes da própria família.
Também fizemos algumas coisas de hotelaria, que são propostas completamente diferentes, porque não estamos a trabalhar para uma pessoa em particular, mas estamos a trabalhar para transmitir um conceito maior, um lifestyle. E isso também é muito interessante, também nos agrada muito fazer, porque estamos a transmitir um conceito mais alargado – uma ideia de vivência que cria memórias nas pessoas e estamos sempre a trabalhar para que a pessoa vá àquele espaço, veja uma coisa, e queira reproduzir em casa, que se vá lembrar dali a um ano ou dali a dois anos. Então estamos a trabalhar um bocadinho ao contrário – em vez de recuperar as memórias das pessoas, estamos a projectar memórias nas pessoas. E esse trabalho também é muito interessante – criar recordações nas pessoas com os espaços.

Qual é o papel da cor no vosso processo criativo?

A cor, para mim, é vida. Não há espaço sem cor. Normalmente as pessoas associam muito o nosso ateliê e as coisas que nós fazemos à cor. Mas depois, se formos analisar, muitas vezes nem usamos assim tanta cor na arquitectura, vamos é depois usar muita cor nos objectos. Nós usamos muitos objectos com cor, desenhados por nós, muitas vezes, para criar elementos de contraste e de vivacidade nos espaços.

Como é que vê a utilização da cor em Portugal?

Os portugueses usam a cor muito no exterior e muito pouco no interior. Nós temos cidades super coloridas, prédios com imensas cores e qualquer estrangeiro que venha cá fica sempre surpreendido com isso. Os nossos palácios antigos são pintados de rosa, de amarelo, de azul. Há uma diversidade muito grande cromática na rua, mas depois quando entramos dentro dos espaços, os espaços são todos muito monocromáticos.

Se tivessem de apresentar a colecção Antologia a alguém, o que diriam sobre este catálogo?

Para nós é um catálogo que é muito útil porque tem uma panóplia de cores que estão muito bem estudadas em termos de mescla entre umas e outras, ou seja, são cores que são fáceis de misturar e de combinar umas com as outras. Por outro lado, é um catálogo que tem cores, quanto a mim, muito sofisticadas. Ou seja, são cores que são difíceis de definir. Outra coisa que as tintas da Antologia têm é que, normalmente, as tintas mates riscam-se com muita facilidade. Esta tinta não se risca. Isso, para mim, é fundamental, porque nós usamos muitas cores. Se usarmos cores mais escuras e mates, notam-se mais os riscos. E neste catálogo, as tintas são mates mas não se riscam. Isso, para mim, é uma grande vantagem. É uma questão de qualidade de produto.

Consegue escolher 3 cores da colecção Antologia que casem perfeitamente com a vossa estética?

Eu pessoalmente gosto dos tons terrosos que tem. Por exemplo, os amarelos são todos lindos. Ainda não usei nenhum daqueles tons de amarelo, mas são todos lindíssimos. Há uns azuis muito vibrantes. Há imensas cores no catálogo que eu gosto. Claro que depois acabamos de utilizar mais umas que outras, mas não consigo escolher nenhuma em específico.